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Não basta mudar a si mesmo, mude seus comportamentos.

02/07/2017 12:31

 

 

 

Aprender é mudar. Mudar para melhor é sinônimo de desenvolvimento pessoal. E inevitavelmente por autoiniciativa ou por imposições da vida, a mudança acontece em nós. Mas, por vezes quando mais desejamos e necessitamos mudar algo, somos invadidos por um conjunto de obstáculos e  “auto-sabotagem”

que nos retiram capacidade para efetivarmos a mudança desejada. As dificuldades de mudança fazem sentir-se porque queremos defender a nossa imagem, ter uma noção positiva de nós mesmos, sermos amados e apreciados. Ter a noção que temos de mudar, é uma questão generalista, pode mexer com todo o nosso ser, retira-nos capacidade, responsabilidade, respeito a nós mesmos, e como tal, coloca-nos no alvo da autossabotagem, da vitimização e do sentimento de culpa É paradoxal, como podemos mudar algo que não tem os valores suficientes para se mudar a si mesmo? De que serve um pobre pedir a um pedinte.

“Você não pode mudar o que você é só o que você faz.”

 

O que estou a abordar pode parecer paradoxal dado que muitos autores e personalidades apontam para a mudança de nós mesmos como o primeiro passo a ser dado para a melhoria. Eu concordo com grande parte dessas frases, afirmações e ideias. O que temos que mudar é a interpretação taxativa do que esse conceito nos transmite e igualmente o impacto que essa leitura tem no nosso eu. O nosso eu é muito avesso e altamente resistente a qualquer tentativa que se oponha a si mesmo. O nosso eu dificilmente é penetrável ao desdém, a renuncia, ao afastamento daquilo que somos, à humilhação, a critica. Perante este cenário, cada vez que conscientemente ou subconscientemente recebemos a ideia de mudança de nós mesmos, tendencialmente é lido como uma afronta à nossa pessoa, ao amor, à estima, à consideração, orgulho e admiração que temos de nós próprios. E desafiar-nos a nós mesmos de forma perniciosa, certamente o resultado será de insucesso. O mais forte, o seu eu como um todo, vencerá a sua vontade de mudança de você mesmo. É como um sistema de proteção que corre automaticamente perante a ameaça de invasão do seu eu.

 

Por exemplo: Quando foi a última vez que você encontrou alguém e disse: “Olá, você pode, por favor, rejeitar-me? Sabe, é que eu realmente prospero e sinto-me incrivelmente bem sobre mim mesmo em ambientes de rejeição e de ódio.”.

 

Certamente isso não acontece. Por quê? Porque fomos feitos para o amor, afeto e aceitação. Basta ligar o rádio e a televisão por dez minutos para descobrir que o coração humano está na fila da frente. Os filmes são centrados em torno dele, a nossa realidade mostra que as pessoas procuram serem aceites e amadas. Podemos confirmar isso no enorme impulso que as estrelas pop têm para cantar sobre o amor. O coração humano quer ser amado. Isso verifica-se desde a nascença, todos nós necessitamos de carinho, afeto, aceitação e amor para que possamos desenvolver-nos de forma saudável e emocionalmente equilibrados.

A ciência tem vindo a provar que os nossos cérebros funcionam melhor quando sabemos que somos amados. Estou seguro em dizer que, por causa de pessoas magoadas e ressentidas ferirem outras pessoas, provavelmente algumas não conseguirão sentir o amor e carinho que necessitam, independentemente do quão incrível os seus pais sejam ou possam ter sido. Nós somos seres imperfeitos num mundo imperfeito, e passamos aos outros, o que foi passado para nós. Quando não recebemos o amor necessário a um bom desenvolvimento, ou quando ele é pervertido e cruel, o nosso coração pode sofrer traumas emocionais catastróficos. Um trauma pode instalar-se quando alguma coisa ou algo que já lhe aconteceu, afeta a sua capacidade para lidar com a dor, e a mágoa sentida é superior à sua capacidade de gerar alegria.

Partindo da ideia anterior, não pretendo ser radical ao ponto de transmitir que nós não mudamos enquanto pessoas, ou que não podemos ou não devemos mudar a nós mesmos. Nada disso, o que pretendo transmitir é que para mudarmos a nós mesmos deveremos seguir uma abordagem de sucesso e que possa ser pacificamente aceite, sem que acione o nosso mecanismo de defesa e vá contra o impulso inato que todos temos para defender a nossa imagem e nossa forma de ser. Por esta razão é mais sensato e autoaceite comprometermo-nos em mudar alguns comportamentos em nós, do que usarmos a frase generalista: mudar a si mesmo.  No final, é isso que se pretende: mudar algo em nós mesmos para melhor.

 

 

A reter: A técnica a implementar é mudar através da mudança de comportamentos, o que será melhor aceite por nós. Não nos ofende não nos diminui a autoestima, nem faz emergir frustração no nosso ego.

 

Percebe-se que gostaria de ser mais como o seu amigo, ou alguém de referência que considera um modelo, não faça apreciações depreciativas acerca de você. Não se compare pela negativa. Aprecie sim o que gostaria de ver em si mesmo e faça algo que permita implementar esse comportamento, forma de ser, ou atitude que achou poder beneficiá-lo. Faça o que os adultos deveriam fazer na educação comportamental aos seus filhos. Os pais devem manter o amor incondicional aos seus filhos, mesmo na hora da desaprovação ou repreensão. Por exemplo, se um pai quer reprovar um comportamento de uma criança pode seguir duas vias:

A positiva e construtiva: “O pai não gosta que quanto ficas nervoso comeces a dar pontapés nos teus brinquedos.” – Desaprovação do comportamento.

A negativa e destrutiva: “O pai não gosta de ti quando ficas nervoso e dás pontapés nos teus brinquedos.” – Desaprovação da criança.

O primeiro exemplo é focado apenas no comportamento, o que é correto e assertivo. O segundo exemplo é focado na criança e no seu amor por ela, o que é incorreto e destrutivo.

Cada vez que a autoimagem, autoestima e autovalor são afetados negativamente, pelos outros significativos ou por nós mesmos, colocamo-nos em causa. Podemos questionar o nosso próprio valor enquanto pessoas e com isso denegrirmos a imagem que temos de nós mesmos. Isto pode ter um duplo impacto negativo:

§  Bota-nos abaixo.

§  Associamos a nossa desvalorização à incapacidade de mudarmos a nós mesmos, dado que nos sentimos “vitimizados” e consequentemente com uma justificação plausível para não conseguirmos melhorar os nossos comportamentos.

Este ciclo negativo de desvalorização e justificação das incapacidades pode levar a que a pessoa se mantenha “presa” em si mesmo, fazendo sempre mais do mesmo. Gera-se um conflito interno enorme. A pessoa sabe que tem coisas em si que precisam ser mudadas, que necessitam da sua atenção e dedicação, mas sente-se impotente para fazer algo para sair dessa paralisação, isto porque se foi acostumando a olhar para si como alguém que não consegue ser eficaz na mudança a que se propõe devido à sua baixa capacidade para tal. Este conflito interno é alimentado pela dupla desvalorização anteriormente referida.

 

Dica: Torna-se primordial que tente perceber se os seus hábitos paralisam ou potenciam a sua vida?

Para mudar a si mesmo de forma eficaz, assertiva e saudável você deve manter o amor por você mesmo intato. O autoamor incondicional é autoprotetor e promotor de sentimentos positivos e atitudes positivas em favor de nós mesmos. Como pode ajudar-se a si mesmo se estiver contra você? Como pode mudar algo em si mesmo quando a sua autoproteção foi antecipadamente ativada? Que credibilidade dará a si mesmo se não se autorrespeitar? As respostas a estas questões são certamente pela negativa. Todos nós, necessitamos de um senso de autoestima e de autovalor para que possamos ajudar-nos a nós mesmos a mudar algo em nós. E a melhor forma de fazer isso, é não focarmos a mudança em nós mesmos, mas sim nos nossos comportamentos. Dado que os nossos comportamentos são percepcionados como parte de nós, e não nós mesmos. Evitando desta forma que nos desvalorizemos ou nos autodepreciemos enquanto um todo (o nosso Eu).

 

Podemos mudar por duas razões principais. Porque queremos eliminar ou diminuir um comportamento indesejado,

 ou um mau hábito, ou porque queremos programar um comportamento novo que perspectivamos poder.

 Em ambas as situações a capacidade de liderar a nós mesmos é uma ferramenta imprescindível para a obtenção de sucesso. Certifique-se que sabe o que pretende mudar, foque as suas forças e estratégias nisso e muna-se da vontade necessária para auxiliar-se nos momentos de provação. Atenção, a maior dificuldade em mudar algo que percebemos não nos servir mais, prende-se com o fato de termos recompensas associado, nomeadamente recompensas cognitivas, situacionais, emocionais e físicas. Por outro lado, quando pretendemos implementar um comportamento ou atitude nova, a maior dificuldade prende-se com o desconforto inicial e com a ausência de um retorno positivo imediato. Por este motivo, você deve estar bem ciente do que quer, porque quer, e qual o benefício em médio prazo. Esta é a sua vida, melhore-a hoje mesmo!

 

Para mudar algo, para programarmos uma mudança significativa de forma efetiva até que se torne parte de nós, é preciso aprender algo novo. E, para aprender algo novo é necessário dedicar tempo a essa tarefa, é preciso praticá-la e persistir nela. É primordial traçar um objetivo suportado num planejamento e com passos bem definidos que descrevam as ações a tomar. Essas ações devem estar definidas no tempo, serem específicas e acima de tudo dependerem de você.

Inevitavelmente a autoconfiança

 joga um papel importantíssimo em qualquer tipo de mudança que queiramos programar em nós mesmos. Sem um senso de autoconfiança, ficamos à mercê das vicissitudes da vida e das nossas incapacidades, medos e fraquezas. Certifique-se que desenvolve a confiança necessária em si mesmo para poder propor-se ao desafio que uma mudança comportamental exige. Por vezes, pode passar-se um calvário de pequenos avanços e recuos, e os retrocessos podem ser desanimadores, enfraquecendo-lhe a força que tanto necessita para continuar firme no seu caminho traçado. É exatamente nesses momentos de perda de ânimo que a sua confiança deve impor-se às suas dúvidas, sofrimento ou cansaço.

Estando ciente que a mudança que pretende ver sedimentada irá desafiá-lo, por um lado fazendo sentir algumas necessidades impostas pelos velhos hábitos e por outro, pela ausência de recompensa imediata no novo comportamento ou hábito, e sabendo também que necessita investir tempo e dedicação que permitirá modelar os comportamentos desejados, a sua autoconfiança irá promover o seu sucesso.

Partindo do princípio de que não existem fracassos mais sim resultados, e estes podem estar de acordo com as suas expectativas ou não, importa focar-se no seu objetivo e ir verificando se os seus comportamentos estão a surtir efeito. Caso não estejam, não personalize, não avalie o resultado pela perspectiva da sua identidade, como se você fosse um falhado. Foque a sua atenção nas ações que não estão a ser eficazes e melhore-as. Reveja o que não funcionou e pense numa solução. Experimente novas formas de abordar o que pretende ver implementado, até que o resultado obtido seja satisfatório. Até lá, não avalie os seus resultados do ponto de vista do seu valor enquanto pessoa. Olhe para si como alguém que tem capacidade e habilidade para aprender com os erros e falhas, e seguir em frente. Estimule-se, incentive-se, motive-se até instituir em si mesmo o comportamento desejado. Nesse momento, você mudou a si mesmo, sem focar-se em mudar-se a si mesmo. Essa é a abordagem funcional e promotora de sucesso.

By Moreno Jambo

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